O Brasil teve cerca de 690 mil mortes por covid-19 durante a pandemia, sendo a maioria delas (424 mil) quando já havia vacina disponível, em 2021. A desigualdade no acesso à vacina é tema do relatório lançado pela Oxfam Brasil no dia 23 de outubro, no 13º Congresso de Saúde Coletiva promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O Ministério da Saúde estabeleceu como meta a cobertura vacinal de 90% da população. De todos os estados, São Paulo foi o único que conseguiu alcançar a marca, de acordo com a Oxfam. O dado está relacionado ao Índice de Desenvolvimento Humano alto do estado, um dos fatores considerados determinantes para a taxa de vacinação. Na região Sul, 30% dos municípios apresentavam mais de 80% da população com esquema de vacinação completo, na região Sudeste 27,2%, no Centro-Oeste 11,8%, no Nordeste 2,7% dos municípios e na região Norte apenas 1,1%.
Os principais fatores que impediram o país de atingir a meta, segundo o estudo, foram a atuação negligente e desordenada do governo federal, a ausência de campanhas públicas informativas, a gestão inadequada e a falta de estratégia nacional entre a União e os estados, deixando milhões de brasileiros expostos aos riscos da doença.
Além disso, raça e gênero são fatores que influenciam o acesso à vacinação. A pesquisa analisou dados de 8,5 milhões de pessoas que receberam a primeira dose das vacinas contra a covid-19 e concluiu que apenas 23% das doses aplicadas foram destinadas a pretos e pardos, ainda que sejam a maioria da população. Em termos gerais, a publicação analisou que as mulheres foram mais vacinadas do que os homens em todos os estados brasileiros, o que se deve à propensão das mulheres de tomarem decisões de saúde para seus filhos e por serem mais predispostas a buscar informações sobre vacinas, segundo o documento.
Entre as recomendações feitas pela Oxfam Brasil estão a revisão do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO) sob a perspectiva das desigualdades de renda, raça/cor e gênero, a formação de profissionais de saúde com foco no combate aos movimentos antivacina e ao negacionismo científico, a adoção da lei federal para reorganizar o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e o Plano Nacional de Imunização, dando um enfoque de direitos humanos da segurança sanitária, entre outros.
O estudo “Desigualdade no Acesso à Vacinas contra Covid-19 no Brasil” analisou a gestão sanitária e estratégica dos órgãos públicos durante a pandemia e ofereceu uma série de propostas e recomendações para que os erros não se repitam. Realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, foram usados dados do Vacinômetro Covid-19 da RNDS/SASISUS e do IBGE e entrevistas com gestores governamentais, representantes de organizações não governamentais e outros especialistas.
Fonte: Observatório Terceiro Setor. Leia matéria completa.