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Healthtechs: entenda como a tecnologia chegou a hospitais e impacta sua saúde

Ao pensar no futuro da medicina, esqueça robôs trafegando entre pacientes e grandes máquinas que realizam cirurgias sem precisar de comandos humanos. A mudança tecnológica na saúde será mais sutil, mas, ainda assim, revolucionária, analisam especialistas desse mercado. Hoje, milhões são investidos em inovações que agilizam a gestão de hospitais, economizam dinheiro e liberam leitos para mais pacientes — muitas vezes, sem que eles sequer percebam a tecnologia envolvida nesse processo. De olho nas necessidades da medicina — e do mercado — as startups focadas em saúde, conhecidas como healthtechs, passam por um “boom” no Brasil e alavancam milhões em investimentos.https://eb6e4b2c38d93a6a605513ff891b0ea3.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html?n=0

Os resultados começam a aparecer na prática. Na Santa Casa de Belo Horizonte, por exemplo, o uso de um software que permite identificar a tendência de tempo de internação de cada paciente que dá entrada no hospital, com base em seu histórico de saúde e condições atuais, derrubou a média de dias de permanência dos pacientes de 9,6 para 7,5 dias em um teste realizado no setor de nefrologia. “Esses dois dias geram uma economia muito grande na questão das diárias e possibilitam que 50 pacientes a mais sejam internados por mês. Uma boa saúde não é aquela em que o paciente fica internado”, detalha o gerente de planejamento da Santa Casa, Isaque Costa. 

Impulsionado por tecnologias como essa, o número de healthtechs aumentou 16% no Brasil entre 2019 e o início de 2022 e chegou a 397 negócios, segundo levantamento da plataforma Liga Ventures em parceria com a consultora PwC Brasil. Nesse período, o mercado atraiu R$ 1,79 bilhão em investimentos. Os dados ainda estão sendo atualizados, mas já se sabe que hoje o número de empreendimentos continua aumentando: só em Minas Gerais, segundo os dados mais recentes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), são 155 healthtechs, quase 13% do total de 1.224 startups que funcionam no Estado.

As soluções desenvolvidas pelas empresas mineiras são diversas e vão da telemedicina à gestão de consultórios, por exemplo. Com o irmão e sócio, o médico Thulio Timo investiu R$ 300 mil para criar a empresa Récipe. Ela é uma plataforma que permite que médicos emitam receitas de medicamentos e pedidos de exame à distância e que pacientes façam pedidos online de remédios controlados a farmácias. “Se tenho uma paciente fazendo quimioterapia e ela perde o pedido de exame que dei para fazer e voltar em 15 dias, agora ela não precisa mais voltar ao consultório para pegar um novo. Outro ponto é a interligação do médico, paciente e estabelecimentos de saúde para comprar remédios de forma remota quando a receita precisa ficar retida”, explica o médico.https://d-11471076032542281133.ampproject.net/2211182146000/frame.html

Tecnologias também chegam ao consultório de odontologia. Em moldes similares ao do Uber, a minera ConectaDent permite que clínicas contratem especialistas por demanda. O profissional se cadastra no site e, quando um paciente precisar de um serviço que a clínica não realize, ela pode contratar dentistas pontualmente. “Hoje, as clínicas pequenas estão sendo engolidas pelas grandes franquias, porque, quando o paciente precisa de várias especialidades, elas precisam indicar ou contratar com um porcentagem que causa prejuízo. O Brasil é o país com mais dentistas do mundo e alguns não querem ter consultório pela saturação do mercado”, reflete o fundador da empresa, o dentista Cristiano Thomás.

Tecnologias ficam na ‘retaguarda’ da saúde, mas também chegam às mãos do paciente

“Às vezes, o paciente não verá nada da tecnologia, porque ela é utilizada dentro do laboratório, por exemplo, no ‘backstage’, digamos assim”, avalia o diretor executivo de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos maiores do Brasil, Rodrigo Demarch. O projeto Eretz.Bio, do hospital, apadrinhou 150 healthtechs e investiu financeiramente em 30. Em 2021, a instituição abriu um fundo de R$ 100 milhões para investir em startups do setor da saúde.

A tecnologia empregada por algumas das empresas apoiadas pelo Einstein pode parecer sutil, do ponto de vista do paciente — como a entrada por reconhecimento facial no hospital, implementada por uma startup. Outras chegam diretamente às mãos do paciente. A Afinando o Cérebro, por exemplo, disponibiliza uma série de jogos e exercícios para estimular habilidades cognitivas desde a infância até a velhice, e a Lenscope utiliza softwares de medição do rosto que permitem fabricar lentes e óculos sem que o paciente precise sair de casa.https://eb6e4b2c38d93a6a605513ff891b0ea3.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html?n=0

O médico Renato Couto, cofundador da plataforma Valor Saúde Brasil, da DRG Brasil e um dos presidentes do Grupo IAG Saúde, argumenta que tecnologias que otimizem a gestão hospitalar podem aumentar a eficiência do sistema público. “Temos que fazer um esforço para entregar medicina às pessoas. O que é caro são as consequências de não conseguir fazer medicina bem feita. Com o dinheiro que temos hoje, entregamos muito menos do que a ciência atual permite”, avalia. A plataforma da empresa, utilizada pela Santa Casa de BH, permite cadastrar pacientes de um hospital e alimentar uma base de dados de inteligência artificial capaz de predizer parte da evolução do quadro dos internados. 

Análise de dados em saúde é foco de novas healthtechs

O diretor do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Chiavegatto Filho, avalia que o pote de ouro das healthtechs está na análise massiva de dados. Por trás de grande parte das tecnologias desenvolvidas para o setor, estão inteligências artificiais capazes de analisar milhões de dados sobre incontáveis pacientes. Isso permite, por exemplo, chegar a conclusões como o exemplo da Santa Casa, no início da matéria, em que uma plataforma prediz o tempo médio que determinado paciente permanecerá internado.

“A medicina é historicamente dominada por achismo, em que boa parte das decisões de vida ou morte são baseadas na intuição do profissional da saúde ou do gestor. A coleta de dados abre potencial para o uso deles na tomada de decisões. O ganho de gastar milhões em máquinas na área de saúde é cada vez menor. As startups estão investindo onde há um ganho maior, que é via análise de processamento de dados. A primeira área em que isso está tendo um efeito real é a gestão hospitalar”, avalia o especialista.

Romper a barreira do consultório e definir, com o médico, o diagnóstico do paciente, ainda é um horizonte no futuro — mas possível, projeta Chiavegatto Filho. O uso da inteligência artificial na resolução de questões clínicas precisará passar por estudos randomizados, diz ele, em que se testa o uso de um recurso em um grupo e se compara o resultado ao de um grupo que não o utilizou, da mesma forma como se testa medicamentos e vacinas. 

“A inteligência artificial ainda não transformou a prática clínica porque são decisões de vida ou morte. Uma coisa é o algoritmo errar quem é meu melhor amigo no Instagram e me mostrar posts que eu não quero, outra é errar no auxílio à intervenção em um paciente. Mas uma certeza é que esses algoritmos também irão transformar a área de saúde”, conclui o professor

Fonte: O TEMPO. Leia matéria completa.

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